Flávio Gonçalves, in "VoxBlogs Magazine", 23/05/2007

“Impõe-se, pois, uma tenaz, continuada, esclarecida, inteligente, mobilizadora e persistente luta contra as medidas e a situação, que tornaram, hoje, mais grave a vida da maioria da população portuguesa.” – General Vasco Gonçalves, Alentejo Popular, 21 de Abril de 2005,

Já anteriormente referi o meu receio quanto a um totalitarismo, desta vez “democrático”, em Portugal aquando das detenções, em Abril passado, de militantes nacionalistas e anarquistas – em semanas diferentes. O totalitarismo é, mui realmente, uma tentação real em pequenos países sem tradição democrática, como é o caso do nosso.

Gostaria que esta crónica não fosse politica, até porque não possuo qualquer cor partidária e, até ver, não sou detentor de qualquer cartão de militante de nenhum dos partidos existentes, sejam pequenos, médios ou grandes.

O meu propósito inicial era realçar o que sucedeu na Região Autónoma da Madeira, em que dois pequenos partidos como a Nova Democracia e o Partido da Terra conseguiram eleger deputados, aumentando o pluralismo no Parlamento regional, e o Dr. Alberto João Jardim – sem qualquer surpresa – foi novamente eleito.

O propósito era esse até que, coisas da blogosfera, alguém me encaminhou para o texto do Vasco, candidato número dois da lista do Partido Nacional Renovador, nas eleições intercalares à Câmara Municipal de Lisboa, e actualmente em prisão domiciliária por crime que me parece de mero delito de opinião. Fiquei também a saber que era ele o detentor desse perigoso livro ideológico de George Orwell, “O Triunfo dos Porcos”, que todos vimos exibido na televisão aquando das detenções (eu também sou detentor de uma cópia deste livro, estou um tanto ou quanto receoso).

Em abono da verdade tenho a referir que, nos meus andamentos políticos por entre os pequenos partidos, conheci pessoalmente a pessoa em questão.

Ah, pensarão alguns dos meus leitores, então é por isso que o está a defender. Como o conheci pessoalmente, serei considerado “culpado por associação” aos olhos de uns quantos, não me incomoda, estou habituado a esse tipo de reacção pavloviana. Deixai-me acrescentar que também conheci pessoalmente Odete Santos, se assim se sentem mais confortáveis e encorajados a ler este texto na íntegra.

O Vasco encontra-se em prisão domiciliária por ter escrito num fórum da Internet algumas palavras que não agradaram a algumas pessoas e defender a liberdade dele hoje será defender a minha liberdade amanhã, se o mesmo se encontra detido por não terem gostado do que ele escreveu hoje, amanhã quem me garante a mim que não estarei eu detido, ou qualquer um dos meus colegas cronistas, por escrever algo que desagrade a alguém do poder?

Certamente julgarão que estou a exagerar, as notícias dizem que o PNR é um partido extremista, se ele é candidato desse partido então, culpa por associação, é também extremista e pronto, é bem feito estar preso. Infelizmente as coisas não são assim tão simples, nada é assim tão simples.

E antes que sucumbam a esse facilitismo vou falar-vos de outro caso: o do Dr. Fernando Charrua. Ora bem, Charrua não é militante do PNR nem de qualquer partido considerado extremista, é professor e há 20 anos que trabalha na Direcção Regional de Educação do Norte e militante do PSD, foi mesmo deputado na Assembleia da República por esse partido.

O Dr. Fernando Charrua foi suspenso das suas funções, não por ter escrito nada num fórum de Internet, como o Vasco, mas tão só… por ter feito um comentário que foi ouvido por alguém que não gostou… Quiçá talvez por apenas ter dito algo incomodativo não se encontra em prisão domiciliária, se calhar é maior o crime de escrever que o de falar.

E não me digam que isto não tem nada a ver, porque tem, tratam-se de duas pessoas sem nada em comum, de dois casos aparentemente isolados mas que são sintomas da mesma doença: em Portugal somos cada vez menos livres três décadas e uns trocos depois do 25 de Abril de 1974.

Lamento desapontar-vos, mas quando alguém é detido e levado a tribunal por escrever ou é suspenso do seu trabalho por emitir uma opinião com a qual outros discordam… isso não é democracia, é uma outra coisa, eu chamo-lhe autoritarismo mas também o podia chamar de fascismo.

Ou perseguir pessoas por falarem e escreverem não vos parece fascismo? Fica aqui a minha chamada de atenção! Ou será demasiado radical da minha parte exigir democracia para todos?

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